segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Um fundo branco com estampas coloridas e você outra vez.

Em outros tempos eu agradeceria a sua existência, o teu sorriso iluminado e a esperança que sem saber fez nascer em mim quando mais precisei.  
Veneraria a luminosidade que a sua passagem sempre ofertou aos meus olhos, por dias a fio mergulhados na escuridão, como hoje brilhou também. 
Eu diria a mim mesmo que você substituira, como no meu sonho latente, um amor imtempestivo que chegou, fez estragos e se foi, desejaria você.
Mas hoje agradeço nossa tão pequena e tão grande distância, o teu jeito, o que ganhei te olhando e te amando em silêncio, a esperança ainda viva.
Você é só um sonho, uma miragem real, um platonismo com mil vezes de zoom, a distância mais próxima que conheço, um querer ameno e pacífico.



"E se veste de um jeito que só ela
Ela vive entre o aqui e o alheio [...]
O que faz ela ser quase um segredo
É ser ela assim tão transparente"

Altruísmo dos Desiludidos

Fato é que eu rezei de joelhos só pra te dizer o quanto o amor foi bom, mas é que hoje me olho no espelho e aí não me esqueço da sofreguidão.
Me contorcia de pensar num jeito dessa agonia não viver mais não,até que um belo dia me virou as costas, pegou suas coisas e foi tudo em vão.
Correu pros braços e pra o descaso de quem te amou e depois te quis mais não e eu que aqui sofri calado, cortei um dobrado, fiquei na mão.
Mas não lamurio, não peço que volte e nem nada não, desejo que seja tão feliz que possa um dia lembrar-me com admiração.  

"Chorando se foi, quem um dia só te fez chorar..." 

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Singularmente Importante.

Vivia um aparente descompromisso com a urgência da vida, bagunçava com a imaginação alheia, que fazia da tua idade uma icógnita, ao mesmo tempo em que parecia não viver dramas aparentes, seu olhar era de curiosidade contida, natural e despretenciosa, pouco trêmulo, levemente fixo e pouco compenetrado.
Tinha um ritmo compassado particular e quase único de cruzar sempre o mesmo caminho, rumo ao mesmo lugar, sem receio algum de ser furacão na vida ou na imaginação de alguém. Parecia sempre pouco se importar com o resto, tinha um jeito próprio, um estilo singular e sob medida, uma nítida preferência ao se vestir, repetindo as roupas que quisesse sem se preocupar se sua passagem pudesse ser ou não amorosamente vigiada pelos olhares que sempre se apaixonam pela sua imagem a cada vez que a encontram.
As apostas dos olhares de seu admirador secreto e exposto ao mesmo tempo, observador quase declarado, pareciam nunca perturbar aquele universo particular que havia na sua mochila misteriosa, onde um pedaço de mundo com milhões de revelações de ti, dividiam espaço com o esclarecimento pessoal que aquela mente até então desconhecida devia guardar.
Te via ir, te via voltar, te via sair e te via voltar e as vezes te via ir de novo, reconhecia as roupas com as quais estava quando dentre as tantas vezes, estes olhos se apaixonaram, restando sempre então a espera, uma falsa esperança e a presente companhia da tua ausência.

domingo, 8 de agosto de 2010

Tem de haver um caminho

É um paradoxo, tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Eu que saí a rua com pretexto de ver meus irmãos empinarem pipa mas querendo descobrir qual casa é a sua, ouvi tilintar um cadeado.
Desse cadeado que tilintou e acelerou meu mediano coração, olhei e vi um portão abrir, parecia contigo mas sei que não era, estava longe, porém sendo você ou não só notei a impaciência de alguém que também espera algo ao olhar pro horizonte e chuta o ar em protesto, olhei fixamente. Entrou, saiu várias vezes, olhava pra trás quando eu voltava pra onde estava e olhava pra minha direção quando eu avança, tilintando o cadeado.
Já de noite, o cadeado tilintou pela última vez e o portão se trancou. Peguei esse momento e resolvi entrar pensando: "Tem de haver um caminho" .

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Quarteirão do Abismo

Acreditei até que não morasse mais aqui, nessa grande rua onde aportei também a minha vida, imaginei por alguns dias que viesse aqui a passeio ou sei lá, mas de longe fitei a casa em que você habitualmente abria o portão nas tardes em que te vi, pra sair ou pra entrar com todo o seu mistério sob a minha curiosidade silenciosa.
Depois de dias sem te ver por alí passar com sua habitual presença, que se faz notar e que parece me atrair mesmo quando não te espero, foi olhar pra rua pra te ver passar e virar o rosto na minha direção, que como aqui já disse, atrai como magnetismo inexplicável de algo que eu não sei o que é, mas que há.
O teu olhar, para o qual não achei definição, que em geral é em certa parte cerrado, seja de sono ou de preguiça de arregaçar as pupilas para o mundo, sob aquele cabelo que procura cobrir-lhe um pouco a testa como que no mesmo esforço de poupar-lhe do que há no entorno, somado a aquela face que não sei bem definir se de inexpressividade por querer ou simplesmente por não ter preocupação alguma que lhe faça pesar os traços da expressão facial que sempre porta, me fez rir algumas vezes por concluir que aquele jeito de olhar é o olhar da meninice sua.
Teu andar compassado, parece agitar o ar num ritmo quase dançante, que se pode perceber e poderia ate mecanicamente se desenhar conforme se olha para o cano do seu tênis, que é pouco habitual, fazendo par e conjunto com as calças do tipo que sempre usa, por vezes discretas e por outras extravagantes, como no dia em que te vi e considerei que estivesse tornando, se é que daqui não é ou algo assim, usava calça verde, mas era um verde meio azul que dependendo de quem olhasse poderia parecer mais viva do que realmente era, mas em você ficava interessante.
Portava nas mãos um objeto que não sei dizer qual era, mas era semelhante e por isso julgo que devia ser primo ou parente próximo do "iô-iô", com uma corda que você atirava ao chão e ele então se projetava e fazia um barulho que por um momento achei ser dos teus passos, mas depois vi que não. Como de hábito acompanhei o teu andar até que paraste na habitual calçada, fechando os metros que dividem o nosso contato, onde você com aquela mochila nas costas abriu novamente o portão que te engoliu como que por ironia, sabendo simplesmente que eu alí tão perto de você lhe perdia não de vista mas para um portão que inoportunamente me deixava na sorte de qualquer dia lhe ver outra vez, sem nunca saber quando seria este dia.
Minha presença também foi notada por você talvez quando eu também notei a sua e não sei como pensou nisso mas há duas possibilidades para as quais dou valor de consideração.
Se fores daqui antes do que eu, eis que imagino ter se perguntado como nunca me viu, ou então que se fores gente nova por aqui talvez tenha achado legal que na vizinhança haja alguém de tão próxima idade assim. Aliás idade creio eu que seja tão próxima a ponto de que variemos em dois anos para mais ou para menos um do outro, mas não importa. Tivesse eu com você a chance do contato hoje quase impossível, sonharia em ter por ti e de ti metade do que tive com meu último romance, confesso que aí o portão não mais te engoliria e tomaria de mim por tempo indeterminado.
Mas o fato é que eu gosto das poucas vezes que te vejo e desejo sempre ver mais uma vez, ainda que sejam escassas e que durem pouco frente o espaço de tempo em que elas acontecem, por isso quando vejo-te, me ofereces inocência, pelo menos assim julgo, e eu faço questão de devora-la com olhos de comer presença e observar teus passos quase ilesos, que dessa vizinhança toda talvez só eu note, simplesmente porque nessa cidade onde as ruas só sabem vender ilusões a preços altos, eu sempre as compre a pagamento à vista.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Varanda Vazia, Cheio Coração.

Foram juras de amor trocadas em silêncio
Sob a batida complacente de um coração
Que batia e pulsava como aberta a ferida
Que sangrava e doía feito uma canção
Feito a canção que tocava no rádio
No Rádio e na minha estação
Sob o aroma daquela tarde perdida
Que perdida estava sem mais presunção
Foi quando ao raiar da aurora e o fim do dia
Baixaste a agonia do anfitrião
Ao bater fortes palmas ardidas
Clamando o meu nome
Desesperadamente em frente ao portão
E eu que atendia a chamados 
E buscava saída pra essa prisão
Encontrei em você minha vida
Mesmo que encontrar-te fosse a minha perdição.