sábado, 12 de junho de 2010

Quieto, solitário e cheio de dúvidas.

Não te conheço e não sei quem tu és, nunca ouvi tua voz nem sei o seu nome, não olhei nos teus olhos nem toquei suas mãos, mas tudo em você se faz notável aos meus olhos.
Guardo comigo a brevidade da sensação de que tua face não me é desconhecida, que talvez a tenha visto numa dessas tortuosas ruas dessa cidade que nada tens pra oferecer aos dispersos que se querem unir, logo, não sei quem és tu, ao menos ainda, não sei nem mesmo o que pensa, quanto mais o que deseja e o que anseia pra si.
Teu nome me é ainda desconhecido, até porque talvez só de vista eu lhe conheça e também porque nem palavras trocamos nós anteriormente, teus olhos negros inquietos e misteriosos se movimentam como uma voz que clama sem se ouvir neste rosto quase angelical, por vezes ingênuo e sorrateiramente diabólico, que guarda em caricatura de criança as mais prováveis e ferozes vontades de alguém que chega à madureza com pouco experiência do que é o amor e do que são as aventuras de amar. Tuas mãos se apertam o tempo inteiro confirmando o que seus traços tímidos e desafiadores denunciam em cada olhar, o nervosismo esasperado contido em si se faz externado a cada vez que comprime uma mão contra a outra, suspirando na sequência como quem ainda aguarda o resultado de uma espera aparentemente interminável pelo desconhecido.
O teu silêncio é mais instigante do que qualquer uma das minhas dez mil palavras por segundo e o teu raro e motivado sorriso vale mais do que todos os meus risos por amenidades dados repetidas vezes por minuto sem nenhuma beleza poética, sem nenhuma estética literária, sem nenhuma razão de ser. Pescar um sorriso no teu lábio é mais valioso do que encontrar o tesouro perdido no deserto, porque a luminosidade dos teus risos são tão sinseros e límpidos quanto as gotas de chuva que caem do céu e caminham diretamente de encontro ao mar pra tornar-se imensidão.
Teu ar por vezes assustado me aperta o coração que te queria perto, mas que até se satisfaz por te ter com alguns metros de distância pra poder contemplar cada reação sua aos estímulos que recebe dos que te cercam. A tua solidão no seu sempre marcado e rotineiro assento me sugere que mais dia menos dia poderia eu tentar a sorte de te dizer bom dia e te convidar pra almoçar comigo, pra trocar a timidez por palavras ao vento, pra colocar mais sorrisos no rosto, sendo estes melhores se fossem destinados a mim.
Observo cada passo seu porque admiro, porque valorizo teus pequenos gestos e porque eu talvez goste de você em silêncio, talvez pelo jeito compenetrado que exibe, talvez pelos mistérios dos teus olhos negros, que ainda não consegui fisgar junto aos meus verdes olhos, escondam, talvez porque o teu chegar e o teu partir sejam ainda pra mim desconhecidos e talvez porque ainda que pequena esta cidade, só te pude ver hoje no almoço, desfrutando da solidão quando poderia estar eu exatamente alí, te fazendo sorrir sem ter receios como te vejo fazer naqueles momentos em que você esboça solidão somente com seus olhos, com seus gestos, com o apertar das mãos e com o suspiro que mesmo sutil ainda me provoca os ouvidos e me faz fitar-lhe com a apreensão de quem ama e zela por ti em silêncio.

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